terça-feira, 11 de março de 2008

Brasileiros Sofrem para Entrar na Espanha...

GABRIELA MANZINI

Faz tempo que os brasileiros sofrem para entrar na Espanha, de acordo com a jornalista Dalva Aleixo Dias. "Quantas pessoas foram maltratadas antes que essas histórias mais recentes fossem publicadas? Isso só veio à tona porque, agora, há universidades por trás."
Na semana passada, dois mestrandos foram barrados ao passar por Madri (Espanha) com destino a Lisboa (Portugal). O caso detonou um mal-estar entre Brasil e Espanha no que diz respeito à imigração.
Segundo Dias, no período em que ela morou na Espanha, entre 1996 e 1999, a imprensa espanhola publicou casos de uma brasileira estuprada pelos policiais da imigração e de um brasileiro que não agüentou a pressão da investigação para entrar no país --que já durava dois ou três dias-- e se enforcou, no aeroporto.
No mesmo período, Dias afirma que teve a sua permanência no país ameaçada após um bate-boca com um funcionário do setor de imigração --ele mandou que ela voltasse "de vez" para o Brasil-- e teve a filha de 5 anos empurrada escada abaixo por um grupo de colegas de escola que, havia alguns dias, a chamavam de "porca americana".
Ela conta que os espanhóis mantêm um estereótipo de que os brasileiros ou são do mundo do espetáculo (profissionais de capoeira ou samba) ou da prostituição. "Depois de um tempo, convencidos de que eu era diferente, arrumaram uma maneira de me 'espanholar'. Eu passei a ser 'Dalba' e não 'Dalva'; 'Alexio' e não 'Aleixo'; 'Diaz' e não 'Dias'. E se você é branco e tem ascendência européia, não é considerado brasileiro. É um europeu que, por acaso, nasceu no Brasil. Daí, vale a lei do sangue."
Para Dias, o preconceito contra os brasileiros é conseqüência da péssima imagem do país no exterior. "Para eles, nós sempre fomos um destino exótico no qual nós éramos os selvagens e eles, os evoluídos. De repente, na década de 80, eles se tornaram o destino, entraram numa crise financeira e se sentiram invadidos. O imigrante, fragilizado, virou bode expiatório para justificar o que eles não conseguem resolver."
De acordo com a pesquisadora, na análise da imprensa espanhola, ela concluiu que, lá, a vida dos brasileiros "não vale nada". "Se uma brasileira é morta, ela seduziu alguém e foi um crime passional. Se um brasileiro é morto, ou ele era homossexual e seduziu alguém --e foi crime passional-- ou ele era traficante --e foi queima de arquivo."
O primeiro passo para a solução do problema, para a pesquisadora, seria a criação de um tratado de tratamento de imigrantes. "No Brasil, nós fazemos um esforço absurdo para falar no idioma deles, para que eles nos entendam, para que se sintam em casa. Não somos cordiais, somos quase servis. Quando chegamos lá, se você não conhece bem o idioma ou os costumes do país, eles simplesmente nos viram as costas."
Somos perfeitos idiotas, que ainda não abandonamos os costumes do velho império...
Editado da folha Folha Online.

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